TI verde, mas não tanto

Sugestão de leitura:  João Paulo Piazera.

André Vilela*

São Paulo, 30 de março de 2009

As empresas de Tecnologia da Informação (TI) aderiram ao movimento da TI Verde. Há agora incontáveis referências ao tema em seminários, na web e nas revistas. É particularmente importante ver o segmento adotar a bandeira do ecologicamente correto. Não sei se já existe uma definição acadêmica do que é “ser verde”, entretanto, é preocupante a simplificação e a carona “marketeira” em torno do tema.

O lado bom da TI Verde é a provocação do tema e o reforço na mente das pessoas da consciência ecológica. O fato é que, por conta da vontade de “ser verde”, as empresas passaram a fabricar equipamentos sem ou com pouco uso de componentes ou substâncias de teor poluente, que consomem menos energia elétrica, com melhor eficiência de refrigeração - particularmente em servidores -, envoltos em embalagens de material reciclado, e por aí vai.



Porém, hastear a bandeira “verde” requer iniciativas e esforço de pesquisa, e reinvenção. É olhar para a eficiência, afinal até então o caminho mais curto era o  da facilidade e o de menor custo.

Mas tem um fator que realmente incomoda nesta história de reciclagem: é a
banalização do desperdício. Consumir produzindo material reciclável é menos ruim, mas não o adequado. O ideal deveria ser não desperdiçar. Reciclar tem “despesa ecológica”: gasta água, gera CO2 e talvez até metais pesados.

O que é melhor: reciclar ou usar por mais tempo? Qual o impacto se for estendida a vida útil por mais um ou dois anos de um equipamento?

Observando a indústria dos computadores pessoais, os PCs, nota-se um crescimento em dois dígitos do volume de vendas. Estima-se que exista no Brasil um parque de 60 milhões e que, por ano, seja produzido um número superior a 12 milhões de novas unidades destes produtos. Tais computadores, segundo os padrões da indústria atual, devem durar até três anos.

Depois desse período, parte deles será reciclada, voltando, segundo algumas iniciativas mais atuais, às camadas menos favorecidas da população. Outra parte terá componentes introduzidos novamente na indústria através de reciclagem de materiais (plástico, metal etc.). E uma nada desprezível porção vai virar lixo definitivo e perigoso (metais pesados, pilhas etc.).

Veja que com isso se forma um enorme déficit ecológico. Mesmo para reciclar os materiais dos PC’s, água terá sido usada, CO2 gerado e energia, consumida. E se pudesse ser estendida a vida do PC por mais um, dois anos? E se pudessem ser eliminados centenas de quilos de matéria bruta na sua fabricação?

Talvez no Brasil estivéssemos retirando do lixo 10 milhões de PCs por ano e  evitando a produção de outros 13 milhões. Como a sociedade deveria medir seu avanço digital: pelo número de PC’s produzidos, ou pelo número de PC’s  utilizados?

As iniciativas que estão aí não são ruins, mas estão longe de resolver o problema. Ao executar qualquer ação de “alma verde”, as empresas de certo modo fazem a sua parte para a preservação do meio ambiente. Uma empresa de TI diz que
é ecologicamente correta porque a fabricação de seus produtos é com plástico reciclável e livre de chumbo, quando o certo seria fazer produtos mais duráveis – para serem descartados em um tempo mais longo.

O pensamento socialmente correto é reinventar a fabricação. É a criação de uma indústria de TI com consciência de longo tempo.

Vejo com bons olhos o recente movimento de virtualização na indústria de PC’s. Creio que, finalmente, direta ou indiretamente, o problema de geração de lixo  esteja sendo equacionado com computadores pessoais passando a durar (sem perda de performance) por cinco ou mais anos por conta da implantação desse conceito de otimização do uso de sistemas.

Os impactos na indústria serão grandes e muitas empresas terão de se  reinventar. Muitas vão reagir negativamente, tentar negar e manter o modelo da vida curta, gerador de vendas consecutivas, com alto custo ecológico, além, é claro, dos custos diretos de capital.

De carona, pense um pouco se você, na sua rotina do dia a dia, não está banalizando o consumo sob proteção do rótulo “reciclável”. Afinal, reciclar é  apenas uma alternativa. O ideal é não usar.

“Acredito que a maioria das empresas estejam aderindo a esta onda verde mais por questões de marketing mesmo, para serem bem vistas aos olhos do mercado, do que por consciência própria.

Grande parte dos profissionais de TI que eu conheço falam sobre a importância da TI verde mais quando os pergunto o porquê optar pela TI verde geralmente a reposta é basicamente a mesma, para diminuir o consumo de energia e gerar benefícios financeiros para a empresa.

Isso me faz pensar, o quanto, a TI está realmente disposta a fazer sua parte a fim de melhorar a qualidade de vida do planeta, já que quando se fala de mudanças culturais na empresa ou do quanto tempo e dinheiro se gasta para realmente atingir o status de empresa verde geralmente os ideais ecológicos caem por terra e aí passam a se esconder atrás de simples selos ecológicos, que a partir de um olhar mais macro do ciclo do desenvolvimento sustentável não tem tanto peso nesta questão”.

João Paulo Piazera.

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