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A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano realizada em Estocolmo, Suécia, em 1972, foi considerada um marco histórico na política ambiental internacional. A postura controversa que o Brasil assumiu foi marcante, quando afirmou que várias cidades estariam dispostas a receber a poluição de outros países pois não se importavam em pagar o preço da degradação ambiental, desde que o resultado fosse o aumento do PNB (Produto Nacional Bruto). Esta declaração espantou os países participantes, já que a preocupação da Conferência era justamente a degradação ambiental. Já havia, na época, suspeitas de que os países industrializados estavam usando a bandeira da não-poluição como forma de coibir os países em fase de desenvolvimento industrial.


Mais de duas décadas após a Conferência de Estocolmo, constata-se o aumento da atividade industrial, bem como um número maior de concentrações urbanas e uma acelerada mudança nos padrões de consumo causando o surgimento dos mais diversos tipos de problemas ambientais. Hoje já se sabe que, muitas vezes, o preço do crescimento desenfreado e inconsequente é muito caro: cidades com ar irrespirável, rios e mares poluídos, recursos naturais explorados até a exaustão. Portanto, os problemas ambientais passaram a ser vistos sob uma outra ótica, aquela onde o comportamento humano tem sua responsabilidade.

A responsabilidade do homem sobre o meio em que habita pode ser melhor visualizada quando colocada diante de dois sistemas: o de economia do "cowboy" e da "espaço nave terra" (NUSDEO, 1975). A terra deixou de ser um sistema aberto, caracterizado pela economia do "cowboy" - onde o homem é o desbravador de fronteiras ilimitadas e o produto de suas atividades é naturalmente absorvido pela natureza -, para tornar-se um sistema fechado caracterizado pela economia da "espaço nave terra", o qual simboliza que todo efeito poluidor tem sua causa derivada da atividade humana e que uma vez estando em um sistema fechado o próprio homem terá que conviver com seus efeitos sejam eles prejudiciais ou não.

Nesta sequência evolutiva da questão ambiental evidencia-se a participação cada vez mais presente da opinião pública principalmente devido à facilidade de acesso a dados científicos que comprovam a gravidade dos problemas ambientais e seus efeitos no homem. Como uma das principais causas de impactos ambientais destrutivos é a atividade industrial, surgiu aos poucos, a cobrança de uma postura "ambientalmente correta" a ser cumprida pelas empresas industriais.

"Muitas empresas já começam a tornar-se mais ‘eficientes ecologicamente’, na medida em que reagem a uma série de pressões: o consumismo "verde"; e a ênfase dada pela mídia ao meio ambiente; a maior disposição dos bancos para emprestar a - e a maior disposição das seguradoras para cobrir - empresas que não venham a ter gastos elevados com despoluição ou enfrentar processos judiciais; a pressão interna dos empregados; normas mais rigorosas; os novos impostos ambientais; e os antigos sensos de corporação e responsabilidade pessoal" (SHMIDHEINY,1992).

A exigência de uma postura ambiental das empresas se materializa através da crescente hostilidade de mercados internacionais aos produtos que não satisfazem aos padrões ambientais estabelecidos. Segundo DONAIRE (1995), "É fato indiscutível o advento de medidas legais restritivas, cada vez mais severas, contra produtos contaminados ou provenientes de países que não cuidam adequadamente de seu meio ambiente."

Países como Alemanha (logotipo Anjo Azul), Canadá (diretrizes para "esverdear" produtos), Japão (programa Ecomark), e outros, já possuem programas de eco-rotulagem em estágio avançado. A gestão ambiental a ser implementada nas empresas que desejam se ajustar às exigências internacionais de qualidade ambiental é orientada nas normas BS 7.750 e na série ISO 14.000. Esta nova série ISO, em breve estará certificando as empresas brasileiras, de acordo com os padrões ambientais nela ditados.

Estas políticas visando a conformidade ambiental procuram pressionar indiretamente as empresas para que adequem seus processos e produtos sob a pena de perderem consumidores caso não sejam tomadas medidas de controle, redução e eliminação de impactos ambientais.

As ações efetivas não podem ser pontuais e desorganizadas, frutos de pressões de órgãos ambientais. As ações precisam, sim, "estar integradas à própria cultura organizacional, como processos pró-ativos que representem a forma rotineira e antecipada de impedir quadros de risco, sanções legais e, sobretudo, de melhorar o desempenho e os resultados da organização" (SILVA, BRAVO, 1994

Esta mudança de paradigma, onde as empresas passam a ter outras funções e responsabilidades além daquelas inseridas na atividade econômico-produtiva, têm levado à uma alteração nas considerações inerentes ao processo de tomada de decisão, considerações estas que eram apenas de âmbito técnico e econômico, e que agora passam a ter um caráter mais amplo incorporando a variável ambiental.

Incorporar a variável ambiental na gestão administrativa da empresa tem sido portanto, a preocupação de empresários que buscam assegurar sua entrada ou permanência no mercado, principalmente no momento que se prega a globalização. As ferramentas que possam auxiliar no processo de integração entre as variáveis ambientais e a tomada de decisão a nível estratégico da empresa são bem-vindas.

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