Biodigestor: ferramenta para sustentabilidade rural
Biodigestor é um sistema que fermenta a matéria orgânica e produz biofertilizantes e biogás. Este biogás pode ser utilizado como combustível para alimentar automóveis e tratores bem como ser utilizado para gerar energia elétrica, uma alternativa para diminuir o custo das atividades dos agropecuaristas, ou mesmo, gerar renda na venda do excesso de eletricidade produzida.
Uma série de reportagens produzidas pelo Programa Globo Rural da TV Globo demonstra como o produtor rural pode aproveitar os dejetos produzidos nas criações para diminuir o custo de suas atividades.
Na Parte 1 destaca que os criadores enfrentam o desafio de criar animais confinados em grande quantidade e ao mesmo tempo reduzir o impacto da poluição que eles provocam. São criadores de gado e de porcos que usam o biodigestor. O equipamento trata os dejetos dos animais e dá renda.
Quando o assunto é criação de animais, o Brasil está entre os líderes do mundo. De norte a sul do país, sítios e fazendas abrigam milhões de cabeças de gado de corte, vacas leiteiras, porcos, cabras, ovelhas e frangos. Além de serem enormes, os rebanhos têm boa produtividade, geram riquezas pelo território e garantem uma oferta abundante de alimentos para a população.
O problema é que em certos lugares a concentração de animais é tão grande, que traz riscos para a natureza. Afinal, onde tem muito bicho, tem muito estrume e muita urina. São dejetos que sem manejo adequado se transformam em fontes de poluição.
A ecóloga Magda Lima estuda o assunto na Embrapa Meio Ambiente, que fica em Jaguariúna, São Paulo. Segundo ela, se consideramos apenas os rebanhos confinados de bovinos, aves e porcos no Brasil, a produção de estrume e urina chega 410 milhões de toneladas por ano, o que equivalente a mais de um milhão de toneladas por dia.
“Você tem uma quantidade muito grande de elementos no solo e que às vezes não tem capacidade para absorver esses elementos. Pode ser também que tenhamos problemas de infiltração desses elementos até os lençóis freáticos. Podemos também ter problemas de contaminação de rios, açudes e recursos hídricos em geral”, alerta a ecóloga.
No campo, os maiores vilões são as queimadas, que geram dióxido de carbono; a movimentação de terra, que produz óxido nitroso; e os enormes rebanhos comerciais, que liberam milhões de toneladas de metano para a atmosfera. Quanto maior o volume de animais, maior a produção de gases poluentes.
Um grande desafio da agropecuária moderna é produzir alimentos de qualidade, em quantidade e, ao mesmo tempo, combater a poluição. Criadores no sul do Brasil estão conseguindo enfrentar essa questão de maneira inteligente.
A alta concentração de galpões e animais já provocou muitos problemas ao longo do tempo, como vazamentos de estrume, acidentes, descuido e descaso. Mas esse quadro vem mudando nos últimos anos.
Pequeno produtor típico da região, Serafim Zaura é de uma família de origem italiana que trabalha no campo há várias gerações. Ele planta soja, cria porco e até alguns anos atrás lidava com o esterco do jeito tradicional.
As primeiras mudanças começaram há oito anos. Os dejetos dos animais passaram a ser totalmente canalizados para esterqueiras de alvenaria. Ao longo do ano, o material é aproveitado na lavoura de maneira controlada.
Graças a esses cuidados, a granja do produtor passou a funcionar com licença ambiental. “Está todo mundo fazendo. É uma necessidade que as empresas cobram”, diz Serafim.
O biólogo Ademar Peiter é funcionário do Instituto Ambiental do Paraná, órgão responsável pelo licenciamento das granjas. “Atualmente, é difícil encontrar problemas. Ainda acontece na região por denúncias ou alguma coisa assim. É uma coisa normal você ir à propriedade e encontrar um ambiente desses”, explica.
A adoção em massa das esterqueiras representou grande melhoria para os criadores e para a natureza da região. Mas a esterqueira sozinha não resolve todos os problemas. Afinal, os dejetos ao ar livre também produzem gases poluentes, como o metano, que contribui pro aquecimento global. Então, entra o biodigestor. Com ele, além de evitar a contaminação do solo e das águas, os criadores reduzem a emissão de gases nocivos na atmosfera.
Um biodigestor nada mais é do que um reservatório coberto com lona plástica. O tanque que vai receber os dejetos tem paredes revestidas com concreto ou lona. O tamanho e a profundidade variam de acordo com o lugar e o volume de dejetos de cada criação.
O material entra no tanque e vai se deslocando lentamente até sair do outro lado. Durante o percurso, que dura cerca de 30 dias, ocorre o tratamento dos dejetos, que se tornam menos poluentes, como explica o engenheiro ambiental Guilherme Dalmazo.
“Dentro do biodigestor as bactérias presentes nos dejetos consomem a matéria orgânica proveniente da granja. É um processo biológico onde toda a matéria orgânica não digerida pelos animais é decomposta pelas bactérias no biodigestor, que vão se alimentando e produzindo o biogás”, detalha Dalmazo.
O biogás é inflamável e, por isso, pode ser aproveitado na propriedade como combustível. Ele pode movimentar motores, gerar energia elétrica e aquecer granjas ou casas nos meses de frio. Uma vantagem ecológica é que com a queima do gás ocorre a destruição do metano, muito agressivo pro meio ambiente.
Outro benefício ecológico é que ao passar pelo tratamento, o dejeto da granja fica mais suave, com carga orgânica mais baixa. É o biofertilizante: um adubo orgânico de qualidade, que pode ser usado em pastagens e lavouras.
Além de funcionar com dejetos de animais, o biodigestor pode ser abastecido por outras fontes de matéria orgânica. É o caso das palhas e sobras de cultivo, do vinhoto das usinas de cana, do esgoto doméstico e até de restos de indústrias de alimentos.
Na Parte 1 destaca que os criadores enfrentam o desafio de criar animais confinados em grande quantidade e ao mesmo tempo reduzir o impacto da poluição que eles provocam. São criadores de gado e de porcos que usam o biodigestor. O equipamento trata os dejetos dos animais e dá renda.
Quando o assunto é criação de animais, o Brasil está entre os líderes do mundo. De norte a sul do país, sítios e fazendas abrigam milhões de cabeças de gado de corte, vacas leiteiras, porcos, cabras, ovelhas e frangos. Além de serem enormes, os rebanhos têm boa produtividade, geram riquezas pelo território e garantem uma oferta abundante de alimentos para a população.
O problema é que em certos lugares a concentração de animais é tão grande, que traz riscos para a natureza. Afinal, onde tem muito bicho, tem muito estrume e muita urina. São dejetos que sem manejo adequado se transformam em fontes de poluição.
A ecóloga Magda Lima estuda o assunto na Embrapa Meio Ambiente, que fica em Jaguariúna, São Paulo. Segundo ela, se consideramos apenas os rebanhos confinados de bovinos, aves e porcos no Brasil, a produção de estrume e urina chega 410 milhões de toneladas por ano, o que equivalente a mais de um milhão de toneladas por dia.
“Você tem uma quantidade muito grande de elementos no solo e que às vezes não tem capacidade para absorver esses elementos. Pode ser também que tenhamos problemas de infiltração desses elementos até os lençóis freáticos. Podemos também ter problemas de contaminação de rios, açudes e recursos hídricos em geral”, alerta a ecóloga.
No campo, os maiores vilões são as queimadas, que geram dióxido de carbono; a movimentação de terra, que produz óxido nitroso; e os enormes rebanhos comerciais, que liberam milhões de toneladas de metano para a atmosfera. Quanto maior o volume de animais, maior a produção de gases poluentes.
Um grande desafio da agropecuária moderna é produzir alimentos de qualidade, em quantidade e, ao mesmo tempo, combater a poluição. Criadores no sul do Brasil estão conseguindo enfrentar essa questão de maneira inteligente.
A alta concentração de galpões e animais já provocou muitos problemas ao longo do tempo, como vazamentos de estrume, acidentes, descuido e descaso. Mas esse quadro vem mudando nos últimos anos.
Pequeno produtor típico da região, Serafim Zaura é de uma família de origem italiana que trabalha no campo há várias gerações. Ele planta soja, cria porco e até alguns anos atrás lidava com o esterco do jeito tradicional.
As primeiras mudanças começaram há oito anos. Os dejetos dos animais passaram a ser totalmente canalizados para esterqueiras de alvenaria. Ao longo do ano, o material é aproveitado na lavoura de maneira controlada.
Graças a esses cuidados, a granja do produtor passou a funcionar com licença ambiental. “Está todo mundo fazendo. É uma necessidade que as empresas cobram”, diz Serafim.
O biólogo Ademar Peiter é funcionário do Instituto Ambiental do Paraná, órgão responsável pelo licenciamento das granjas. “Atualmente, é difícil encontrar problemas. Ainda acontece na região por denúncias ou alguma coisa assim. É uma coisa normal você ir à propriedade e encontrar um ambiente desses”, explica.
A adoção em massa das esterqueiras representou grande melhoria para os criadores e para a natureza da região. Mas a esterqueira sozinha não resolve todos os problemas. Afinal, os dejetos ao ar livre também produzem gases poluentes, como o metano, que contribui pro aquecimento global. Então, entra o biodigestor. Com ele, além de evitar a contaminação do solo e das águas, os criadores reduzem a emissão de gases nocivos na atmosfera.
Um biodigestor nada mais é do que um reservatório coberto com lona plástica. O tanque que vai receber os dejetos tem paredes revestidas com concreto ou lona. O tamanho e a profundidade variam de acordo com o lugar e o volume de dejetos de cada criação.
O material entra no tanque e vai se deslocando lentamente até sair do outro lado. Durante o percurso, que dura cerca de 30 dias, ocorre o tratamento dos dejetos, que se tornam menos poluentes, como explica o engenheiro ambiental Guilherme Dalmazo.
“Dentro do biodigestor as bactérias presentes nos dejetos consomem a matéria orgânica proveniente da granja. É um processo biológico onde toda a matéria orgânica não digerida pelos animais é decomposta pelas bactérias no biodigestor, que vão se alimentando e produzindo o biogás”, detalha Dalmazo.
O biogás é inflamável e, por isso, pode ser aproveitado na propriedade como combustível. Ele pode movimentar motores, gerar energia elétrica e aquecer granjas ou casas nos meses de frio. Uma vantagem ecológica é que com a queima do gás ocorre a destruição do metano, muito agressivo pro meio ambiente.
Outro benefício ecológico é que ao passar pelo tratamento, o dejeto da granja fica mais suave, com carga orgânica mais baixa. É o biofertilizante: um adubo orgânico de qualidade, que pode ser usado em pastagens e lavouras.
Além de funcionar com dejetos de animais, o biodigestor pode ser abastecido por outras fontes de matéria orgânica. É o caso das palhas e sobras de cultivo, do vinhoto das usinas de cana, do esgoto doméstico e até de restos de indústrias de alimentos.
Na parte 2, destaca-se projetos voltados para o aproveitamento sustentável dos dejetos o que está mudando a qualidade de vida de centenas de famílias de criadores.
Nos últimos anos, o biodigestor vem sendo cada vez mais adotado por sítios, fazendas, cooperativas e empresas em várias regiões do Brasil. Muitos dos novos projetos surgiram por iniciativa de agroindústrias do setor de carnes, como Marfrig, JBS, Aurora, entre outras.
O advogado Paulo Rossato coordena o programa de biodigestores da Sadia, atual BR Foods. Criado em 2005, o projeto já instalou o equipamento em 1.186 granjas de suínos em cinco estados brasileiros. Os criadores são integrados, ou seja, fornecedores exclusivos que recebem ração e assistência técnica da empresa.
“É natural que a produção de suínos gera impactos. Então, nós nos sentimos comprometidos em adequar e manter a produção adequada ambientalmente. E outra é que nós temos um consumidor exigente e que nos cobra de fato uma postura condizente com a atualidade”, explica Rossato.
A região do Brasil onde esse projeto está mais avançado é o oeste do Paraná, onde o biodigestor já foi instalado em 400 propriedades.
Ademir Geremias entrou no programa em 2006. No município de Toledo, ele mantém uma granja de porte médio, voltada para a produção de leitões.
Somados os galpões, as atividades e os animais, a granja produz cerca de 43 mil litros de dejetos por dia. O líquido escorre pela tubulação subterrânea até uma baixada. Ademir Geremias conta com dois biodigestores. Ao somar material e mão de obra, cada equipamento desse porte custa cerca de R$ 70 mil. Mas o produtor não põe a mão no bolso. Toda a instalação é bancada pelo projeto. “Já foram investidos nesse projeto R$ 90 milhões, com tudo incluído”, calcula.
O coordenador explica que a agroindústria não visa ter lucro com a iniciativa, mas também não quer ter prejuízo. A ideia é pagar os custos do programa justamente com a redução da poluição.
Ao lado de cada biodigestor a empresa instalou queimadores, que se alimentam do biogás. A queima tem os objetivos de gerar um ganho ambiental, com a destruição do metano, e levar dinheiro vivo para o projeto, o que ocorre com a venda de um produto ecológico conhecido como crédito de carbono.
Crédito de carbono é um certificado emitido pela ONU, que comprova que um projeto, empresa ou entidade está de fato reduzindo a emissão de gases de efeito estufa. O produto foi criado a partir de acordo internacional, assinado em 1997 na cidade japonesa de Quioto e que ficou conhecido como Protocolo de Quioto.
Segundo o tratado, os países mais poluidores do planeta, ou seja, os que mais sujaram a atmosfera ao longo da história, comprometeram-se a reduzir a emissão de gases que provocam o aquecimento global. Entre os campeões da poluição acumulada estão economias de industrialização antiga, como Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Japão e Canadá.
Esses países podem atingir as suas metas de redução diminuindo de fato a emissão de poluentes em seus territórios ou financiando projetos ou empresas que façam isso em outros lugares do mundo. Esse financiamento ecológico ocorre com a venda dos créditos de carbono, como explica a economista Daniela Bacchi Bartholomeu, da Esalq, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós, que fica em Piracicaba, São Paulo.
“A venda dos créditos de carbono pode ser feita diretamente para países que possuem a obrigação de reduzir as emissões. Pode ser para empresas desses países que, de certa forma, assumiram certa responsabilidade por essa redução das emissões ou até mesmo para fundos constituídos com esse objetivo”, diz Daniela.
Para contabilizar a redução de poluentes em cada propriedade de Toledo, no oeste do Paraná, os queimadores contam com um equipamento eletrônico que, ao longo do dia, registra o volume de gases que está sendo queimado. As informações alimentam um banco de dados, como explica a engenheira ambiental Pauline Bellaver. “O banco de dados contém todas as informações dos biodigestores e da queima individualizada para cada integrado”.
Os produtores do projeto também podem aproveitar o biogás para movimentar motores ou gerar eletricidade. Mas nesse caso, o investimento deve ser bancado pelo próprio criador. O motor ou gerador precisa ser acoplado ao contador de metano para que o projeto continue recebendo os créditos de carbono. A primeira venda de certificados deverá ocorrer ainda em 2011 e será para um fundo de compradores da Europa.
O biodigestor de uma de granja média, com dois mil animais em engorda, poderia gerar algo perto de R$ 15 mil por ano com a venda de créditos de carbono. Mas o programa não arrisca uma previsão de quanto tempo vai precisar para pagar os investimentos em cada granja. Tudo depende do volume de metano queimado e do preço do crédito de carbono, que varia muito no mercado internacional.
Mas os criadores do projeto já estão faturando com o biodigestor de outra maneira. Esse é o caso de Aércio Ely que tem uma engorda de porcos com 550 animais no velho sítio da família. Apaixonado pela atividade, ele cuida do rebanho com ajuda do filho mais velho. O biodigestor da família é um equipamento pequeno, adaptado ao tamanho da criação.
De um lado fica o queimador, para gerar créditos de carbono, e de outro está o biofertilizante, que já está melhorando as contas da propriedade. O biofertilizante produzido no sítio se tornou fundamental para outra atividade da família, a criação de gado leiteiro. O produto serve para adubar uma lavoura de milho e o cultivo de capim tifton, ambos usados na alimentação das vacas.
Esse tipo de adubo tem algumas vantagens em relação ao esterco convencional. Por ser mais suave, ele não queima as folhas do capim e pode ser aplicado por cima do pasto. Outra diferença é que os nutrientes do biofertilizante são absorvidos com mais facilidade pelas plantas.
Mas vale lembrar que esse tipo produto deve ser usado com cuidado, de acordo com análise de solo. Afinal, adubo orgânico em excesso também pode causar problemas de contaminação.
O biofertilizante também trouxe vantagens no cultivo de milho. A família reduziu os gastos com adubo. A produtividade da lavoura aumentou e a silagem das vacas ganhou em qualidade. A melhoria do capim e da silagem de milho também gerou mudanças na produção de leite. Com alimento melhor e mais farto, a produtividade das vacas disparou.
As vacas mais bem nutridas também passaram a produzir um leite mais rico, com mais gorduras e proteínas. Com isso, a família passou a receber da cooperativa local uma bonificação no preço do litro.
No balanço das novidades, o casal Aécio Ely e Gladis explica que somando o aumento da renda com o leite e a redução dos custos com adubo químico, o uso do biofertilizante já está gerando ganho extra para o sítio de cerca de cinco mil reais por ano. Segundo Gladis, faz diferença.
“Pudemos pintar a casa. Compramos uma bomba de dejetos. Também foi comprado um computador para os filhos, que precisam para a escola, e uma assinatura de internet”, diz Gladis.
Na opinião de Aércio Ely, além de trazer ganho financeiro, o biodigestor virou motivo de orgulho para família. “O que eu faço para a natureza, eu estou fazendo para os meus filhos. Eu vou deixar alguma coisa pra eles para o futuro. Eu tenho que deixar alguma coisa de bom exemplo. Se eu não deixar exemplo, o que vai ser dos meus filhos? Eu estou fazendo a minha parte. Se todo mundo fizer um pouco, vai beneficiar todo mundo”, alerta.
História de famílias como a de Aércio Ely não deixam dúvidas de que é possível criar animais em escala comercial, melhorar a renda no campo e, ao mesmo tempo, ter cuidado com a natureza. Essa é uma maneira de produzir alimentos e riquezas no presente pensando também no futuro do planeta e das próximas gerações.
Nos últimos anos, o biodigestor vem sendo cada vez mais adotado por sítios, fazendas, cooperativas e empresas em várias regiões do Brasil. Muitos dos novos projetos surgiram por iniciativa de agroindústrias do setor de carnes, como Marfrig, JBS, Aurora, entre outras.
O advogado Paulo Rossato coordena o programa de biodigestores da Sadia, atual BR Foods. Criado em 2005, o projeto já instalou o equipamento em 1.186 granjas de suínos em cinco estados brasileiros. Os criadores são integrados, ou seja, fornecedores exclusivos que recebem ração e assistência técnica da empresa.
“É natural que a produção de suínos gera impactos. Então, nós nos sentimos comprometidos em adequar e manter a produção adequada ambientalmente. E outra é que nós temos um consumidor exigente e que nos cobra de fato uma postura condizente com a atualidade”, explica Rossato.
A região do Brasil onde esse projeto está mais avançado é o oeste do Paraná, onde o biodigestor já foi instalado em 400 propriedades.
Ademir Geremias entrou no programa em 2006. No município de Toledo, ele mantém uma granja de porte médio, voltada para a produção de leitões.
Somados os galpões, as atividades e os animais, a granja produz cerca de 43 mil litros de dejetos por dia. O líquido escorre pela tubulação subterrânea até uma baixada. Ademir Geremias conta com dois biodigestores. Ao somar material e mão de obra, cada equipamento desse porte custa cerca de R$ 70 mil. Mas o produtor não põe a mão no bolso. Toda a instalação é bancada pelo projeto. “Já foram investidos nesse projeto R$ 90 milhões, com tudo incluído”, calcula.
O coordenador explica que a agroindústria não visa ter lucro com a iniciativa, mas também não quer ter prejuízo. A ideia é pagar os custos do programa justamente com a redução da poluição.
Ao lado de cada biodigestor a empresa instalou queimadores, que se alimentam do biogás. A queima tem os objetivos de gerar um ganho ambiental, com a destruição do metano, e levar dinheiro vivo para o projeto, o que ocorre com a venda de um produto ecológico conhecido como crédito de carbono.
Crédito de carbono é um certificado emitido pela ONU, que comprova que um projeto, empresa ou entidade está de fato reduzindo a emissão de gases de efeito estufa. O produto foi criado a partir de acordo internacional, assinado em 1997 na cidade japonesa de Quioto e que ficou conhecido como Protocolo de Quioto.
Segundo o tratado, os países mais poluidores do planeta, ou seja, os que mais sujaram a atmosfera ao longo da história, comprometeram-se a reduzir a emissão de gases que provocam o aquecimento global. Entre os campeões da poluição acumulada estão economias de industrialização antiga, como Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Japão e Canadá.
Esses países podem atingir as suas metas de redução diminuindo de fato a emissão de poluentes em seus territórios ou financiando projetos ou empresas que façam isso em outros lugares do mundo. Esse financiamento ecológico ocorre com a venda dos créditos de carbono, como explica a economista Daniela Bacchi Bartholomeu, da Esalq, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós, que fica em Piracicaba, São Paulo.
“A venda dos créditos de carbono pode ser feita diretamente para países que possuem a obrigação de reduzir as emissões. Pode ser para empresas desses países que, de certa forma, assumiram certa responsabilidade por essa redução das emissões ou até mesmo para fundos constituídos com esse objetivo”, diz Daniela.
Para contabilizar a redução de poluentes em cada propriedade de Toledo, no oeste do Paraná, os queimadores contam com um equipamento eletrônico que, ao longo do dia, registra o volume de gases que está sendo queimado. As informações alimentam um banco de dados, como explica a engenheira ambiental Pauline Bellaver. “O banco de dados contém todas as informações dos biodigestores e da queima individualizada para cada integrado”.
Os produtores do projeto também podem aproveitar o biogás para movimentar motores ou gerar eletricidade. Mas nesse caso, o investimento deve ser bancado pelo próprio criador. O motor ou gerador precisa ser acoplado ao contador de metano para que o projeto continue recebendo os créditos de carbono. A primeira venda de certificados deverá ocorrer ainda em 2011 e será para um fundo de compradores da Europa.
O biodigestor de uma de granja média, com dois mil animais em engorda, poderia gerar algo perto de R$ 15 mil por ano com a venda de créditos de carbono. Mas o programa não arrisca uma previsão de quanto tempo vai precisar para pagar os investimentos em cada granja. Tudo depende do volume de metano queimado e do preço do crédito de carbono, que varia muito no mercado internacional.
Mas os criadores do projeto já estão faturando com o biodigestor de outra maneira. Esse é o caso de Aércio Ely que tem uma engorda de porcos com 550 animais no velho sítio da família. Apaixonado pela atividade, ele cuida do rebanho com ajuda do filho mais velho. O biodigestor da família é um equipamento pequeno, adaptado ao tamanho da criação.
De um lado fica o queimador, para gerar créditos de carbono, e de outro está o biofertilizante, que já está melhorando as contas da propriedade. O biofertilizante produzido no sítio se tornou fundamental para outra atividade da família, a criação de gado leiteiro. O produto serve para adubar uma lavoura de milho e o cultivo de capim tifton, ambos usados na alimentação das vacas.
Esse tipo de adubo tem algumas vantagens em relação ao esterco convencional. Por ser mais suave, ele não queima as folhas do capim e pode ser aplicado por cima do pasto. Outra diferença é que os nutrientes do biofertilizante são absorvidos com mais facilidade pelas plantas.
Mas vale lembrar que esse tipo produto deve ser usado com cuidado, de acordo com análise de solo. Afinal, adubo orgânico em excesso também pode causar problemas de contaminação.
O biofertilizante também trouxe vantagens no cultivo de milho. A família reduziu os gastos com adubo. A produtividade da lavoura aumentou e a silagem das vacas ganhou em qualidade. A melhoria do capim e da silagem de milho também gerou mudanças na produção de leite. Com alimento melhor e mais farto, a produtividade das vacas disparou.
As vacas mais bem nutridas também passaram a produzir um leite mais rico, com mais gorduras e proteínas. Com isso, a família passou a receber da cooperativa local uma bonificação no preço do litro.
No balanço das novidades, o casal Aécio Ely e Gladis explica que somando o aumento da renda com o leite e a redução dos custos com adubo químico, o uso do biofertilizante já está gerando ganho extra para o sítio de cerca de cinco mil reais por ano. Segundo Gladis, faz diferença.
“Pudemos pintar a casa. Compramos uma bomba de dejetos. Também foi comprado um computador para os filhos, que precisam para a escola, e uma assinatura de internet”, diz Gladis.
Na opinião de Aércio Ely, além de trazer ganho financeiro, o biodigestor virou motivo de orgulho para família. “O que eu faço para a natureza, eu estou fazendo para os meus filhos. Eu vou deixar alguma coisa pra eles para o futuro. Eu tenho que deixar alguma coisa de bom exemplo. Se eu não deixar exemplo, o que vai ser dos meus filhos? Eu estou fazendo a minha parte. Se todo mundo fizer um pouco, vai beneficiar todo mundo”, alerta.
História de famílias como a de Aércio Ely não deixam dúvidas de que é possível criar animais em escala comercial, melhorar a renda no campo e, ao mesmo tempo, ter cuidado com a natureza. Essa é uma maneira de produzir alimentos e riquezas no presente pensando também no futuro do planeta e das próximas gerações.
Na Parte 3 (final) o assunto da reportagem de Vico Iasi, são os criadores que estão transformando dejetos de animais em energia elétrica.
Na criação de porcos da família de José Carlos Colombari, no oeste do Paraná, dar destino aos dejetos sempre foi uma dor de cabeça. Mas a situação começou a mudar com o biodigestor. O equipamento trata o esterco do rebanho e produz biogás, rico em metano, um produto inflamável que movimenta a mini-usina da granja.
Utilizando o método onde nada se cria, tudo se transforma, o que antes era um problema, virou solução. O resultado: o criador tornou-se autosuficiente em energia e passou a vender a eletricidade que sobra.
O programa mostra também uma fazenda que aproveita a eletricidade gerada com o biogás para garantir o conforto das vacas e um caminhão movido com a energia dos dejetos.
Em São Paulo, conheça o confinamento do ator e pecuarista Tarcísio Meira. O boi no confinamento, o alimento e principalmente uma solução inteligente para os dejetos dos animais.
Na criação de porcos da família de José Carlos Colombari, no oeste do Paraná, dar destino aos dejetos sempre foi uma dor de cabeça. Mas a situação começou a mudar com o biodigestor. O equipamento trata o esterco do rebanho e produz biogás, rico em metano, um produto inflamável que movimenta a mini-usina da granja.
Utilizando o método onde nada se cria, tudo se transforma, o que antes era um problema, virou solução. O resultado: o criador tornou-se autosuficiente em energia e passou a vender a eletricidade que sobra.
O programa mostra também uma fazenda que aproveita a eletricidade gerada com o biogás para garantir o conforto das vacas e um caminhão movido com a energia dos dejetos.
Em São Paulo, conheça o confinamento do ator e pecuarista Tarcísio Meira. O boi no confinamento, o alimento e principalmente uma solução inteligente para os dejetos dos animais.
Fontes:
Globo Rural - Biodigestor transforma dejetos de criações de porco e gado em renda.
Globo Rural mostra como transformar dejetos em eletricidade
Globo Rural - Aproveitamento de dejetos muda vida de famílias de criadores
Para Saber Mais:
Projetos de sustentabilidade. Instituto Perdigão de Sustentabilidade. BR Foods
Folha do Oeste - Biodigestores: fontes alternativas de energia limpa. Jun. 2010.
BUI XUAN AN; RODRÍGUEZ, L. J.; SARWATT, S.V.; PRESTON, T.R.; DOLBERG, F. Installation and performance of low-cost polyethylene tube biodigesters on small-scale farms. FAO
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