Remédios a favor do ambiente

TECNOLOGIA
Nova linha de pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas busca reduzir o impacto ambiental da produção de fármacos.
MARCELO HENRIQUE NASCIMENTO
USP Online
Com o intuito de incluir em sua rotina estudos sobre métodos para reduzir o impacto ambiental da produção de fármacos, o Laboratório de Síntese e Otimização de Fármacos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP está passando por uma reestruturação.
Localizado no edifício semi-industrial, em frente à FCF, o laboratório está mudando de andar, para um local com maior espaço útil e estrutura, que possibilitará que essa nova linha de pesquisa seja iniciada. O espaço contará com a participação de sete a oito pessoas, entre estagiários e alunos de pós-graduação. Além disso, está sendo formulado um projeto de solicitação de financiamento para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A ideia é que o laboratório inicie suas atividades já no final deste semestre.

Pretende-se pesquisar formas de diminuir, ou mesmo eliminar, os resíduos gerados pela produção de fármacos através dos métodos clássicos, tendo como base os conceitos da química verde.

Resíduos – Um dos maiores problemas ambientais da atualidade é exatamente a grande produção de resíduos gerados pelos processos químicos. A química verde existe no sentido de reduzir, ou eliminar, a sua produção. “Se não diminuir a produção de resíduos, vai chegar uma hora em que teremos que alugar um planeta vizinho só para esse tratamento, devido ao aumento do volume desses resíduos e a área necessária para seu tratamento”, afirma a professora Cristina Northfleet de Albuquerque, responsável pelo laboratório na FCF.
O foco do laboratório será estudar maneiras de reduzir o impacto ambiental gerado pela grande produção de resíduos do processo de síntese de fármacos, obtendo o mesmo, ou até maior, rendimento. Isso seria possível, entre outras medidas, através da diminuição do uso de solventes, ou substituição dos mesmos por outros menos agressivos, de forma que as reações clássicas para essa produção tenham os mesmos resultados, só que com um menor impacto.
Um suporte importante para as pesquisas sobre redução do impacto da produção de fármacos veio com a aquisição de um reator de micro-ondas por parte do laboratório. Com o equipamento, ainda em fase de testes, será possível tornar as reações mais eficientes, de forma que o uso de solventes, o gasto de energia e o tempo sejam menores, fazendo com que a produção de resíduos também seja menor, com um rendimento final maior.
O processo é simples, e se dá pelo aumento da pressão interna da reação, gerado pelo reator. “O etanol tem sua temperatura de ebulição de 78°C, à pressão ambiente. Isso gera certa energia, porém baixa para algumas reações. Com o reator, pode-se aumentar a temperatura de ebulição do etanol para 180° C, simplesmente aumentando a pressão. O que gera mais energia e torna a reação mais eficiente, reduzindo tempo e quantidade de solvente”, exemplifica a professora Cristina.
Inspiração – A professora Cristina Northfleet de Albuquerque relata sempre ter trabalhado com química orgânica, mas sem grande contato com a parte de geração de resíduos e impacto ambiental. Porém, dois fatores principais fizeram com que essa realidade fosse alterada.
O primeiro foi o fato de ela ter sido presidente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) da FCF, nos anos de 2003 e 2004. Nesse período, Cristina teve contato com a questão recuperação de resíduos, mais ligada à segurança. O outro fator foi a influência do professor Orlando Zancanaro, já aposentado, que iniciou toda essa questão de tratamento e diminuição de resíduos na FCF.
“Através dessas experiências, percebi que chegou a hora de eu começar a conectar minha pesquisa, em síntese orgânica aplicada na obtenção de fármacos, com essa parte de impacto ambiental”, completou.

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