Bioplásticos: os plásticos do futuro - PARTE 2

Bioplástico x biodegradável x compostável

Outra questão que preocupa os fabricantes de bioplásticos e entidades do setor, como a Associação Brasileira de Polímeros Biodegradáveis e Compostáveis (Abicom), é a confusão com as nomenclaturas. “Ainda não existe uma identificação registrada, oficial, brasileira, que permita às pessoas reconhecerem o material bioplástico de fonte renovável ou que tenha a propriedade de ser biodegradável compostável”, aponta João Carlos de Godoy Moreira, também vice-diretor técnico da entidade. Pela sua similaridade com os plásticos de petróleo, um leigo não identifica os tipos corretamente. “Estamos elaborando um sistema brasileiro e isso vai ajudar bastante no sentido de inibir essas falsas promessas de produtos biodegradáveis”, explica.
Para Veruska Rigolin, presidente da Abicom e gerente de vendas da Innovia Films, esclarecer as diferenças entre os termos que pululam no mercado e criar um sistema de certificação estão entre os muitos desafios da associação fundada em 2009. Segundo a presidente, há uma banalização do termo biodegradável e, por isso, a entidade atrela o biodegradável ao compostável. “Se é compostável, tem que biodegradar obrigatoriamente em até 180 dias. Esta é a norma. Se não biodegradar em até 180 dias, não é compostável e não há certificação”, explica. Já existe no Brasil desde 2008 a norma para ensaio de materiais plásticos biodegradáveis e compostáveis, a NBR 15448-1/2, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e, além dela, outras normas internacionalmente aceitas são a ASTM D 6400 (norte-americana) e a EN 12432 (europeia).

Apesar de existir a norma nacional, o maior problema apontado por Veruska é a falta de laboratórios para fazer a certificação. “Estamos trabalhando agora com o governo para dar incentivos, porque, de alguma forma, esses laboratórios existentes precisam se adaptar e se modernizar para realizar os testes”. Mas, antes de investir, eles querem saber o volume de material a ser certificado. “Não dá para mensurar, por enquanto”.

Veruska: empenho em diferenciar os termos
 empregados no mercado.

Foto: Cuca Jorge.

A presidente estima que até o final deste ano novidades devem ocorrer. De acordo com ela, a norma brasileira já foi reconhecida pelo European Bioplastics (da Europa e da Ásia). “Teremos uma parceria com eles. E existe a ideia também de usar um logo, para que produtores daqui possam utilizar um selo já reconhecido mundialmente”. Além da certificação do European Bioplastics, também são usadas atualmente a do BPI (Biodegradable Products Institute, dos Estados Unidos) e a do BPS (Biodegradable Products Society, do Japão). “Isso vai separar quem realmente tem um produto biodegradável compostável de quem não tem”.

No caso das embalagens, também é preciso a documentação do organismo certificador – mesmo para aquelas feitas com matérias-primas certificadas. A norma não permite que materiais modificados (processados, com tintas, adesivos etc.) tenham o mesmo selo. A ideia é que as embalagens que atendam a todas essas especificações tenham um número de registro que possa ser acompanhado pelo consumidor.

Segundo Veruska, por mais que exista um selo na embalagem final, a questão passa pela mudança de cultura. A embalagem pode até conter a expressão “biodegradável compostável”, mas não poderá usar o logotipo. “As pessoas têm de ser educadas para que consumam apenas produtos que contenham o selo, do contrário não há como garantir que aquele material seja mesmo sustentável”, explica. “E também para não permitir que empresas que estão supostamente oferecendo alternativas sustentáveis ao mercado continuem trabalhando”.

Outro objetivo da Abicom é esclarecer quanto ao termo oxidegradável, pois até onde se tem notícia, os chamados plásticos oxidegradáveis não atingiram os requisitos mínimos contidos nas normas em questão. “Portanto, não podem usar o apelo ‘biodegradável’ em sua divulgação nem a palavra bio por não haver comprovada ação de degradação microbiológica”, explica.

Oferta em expansão
Filmes desenvolvidos pela
Biomater carregam amidos.
A Biomater – incubada na Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos (Parqtec) e que conta com parcerias com as universidades da região (USP e Federal de São Carlos), além de instituições e empresas – produz bioplásticos obtidos de amidos de mandioca, batata e milho, os TPS, com tecnologia própria. O foco tem sido a indústria de transformação, especialmente a de embalagens para a indústria alimentícia, filmes para embalagens, sacos de lixo, sacolas em geral, filmes de solo e produtos para manejo agrícola (bandejas, tubetes, potes etc.), além de novos desenvolvimentos para o segmento de cosméticos, brindes e embalagens técnicas para agroquímicos.

Além da parceria com a holandesa Rodenburg Biopolymers BV, a empresa ganhou reforço, há um ano, com a entrada de um grupo investidor, o Green Solutions, de Ribeirão Preto-SP, do setor sucroalcooleiro, que propiciou a construção de uma usina de bioplástico no Mato Grosso do Sul. “Além disso, a parceria deve alavancar a expansão de novas usinas em vários estados”, adianta Moreira. “O mercado de bioplástico se diferencia da cadeia petroquímica porque é possível construir fábricas em menor escala. Podem ser produzidos em diversas regiões, utilizando recursos locais e proporcionando o desenvolvimento regional, uma vez que há grande integração com a agricultura”.

Bragatto anuncia novas expansões
 para atender à demanda crescente.
 Foto Cuca Jorge.


Para Moreira, a questão das sacolas trouxe à tona o ponto de vista dos consumidores, que começam a entender o que há por trás do bioplástico. Isso porque, antes das leis, alguns varejistas disponibilizaram a sacola compostável quando a população sequer sabia da sua existência. “Mesmo em meio a controvérsias, o consumidor começa a perceber que ele pode fazer a sua parte no contexto geral, mas ainda não atentou para o grande benefício desse tipo de embalagem para a separação de recicláveis e compostáveis. Sem contar que a sacolinha compostável é ideal para o lixo doméstico”, observa. Moreira se refere à Política Nacional de Resíduos Sólidos que o governo pretende implantar até 2014. “65% do lixo do país é orgânico e a coleta seletiva vai consistir na separação dos compostáveis dos não compostáveis”.

Walcinyr Bragatto Neto, gerente de produtos da Cargill – cuja subsidiária NatureWorks fabrica o PLA sob a marca Ingeo – acredita que os biopolímeros estão seguindo a curva natural de desenvolvimento e consolidação dos plásticos. “Estamos satisfeitos com o volume de vendas, tanto que dobramos a capacidade produtiva em 2009, alcançando as 140 mil toneladas/ano. Em setembro, chegará a 160 mil toneladas/ano”, adianta. “Há uma demanda que cresce rápido. Para algumas aplicações, como a de termoformados, o bioplástico é até mais competitivo que certos plásticos derivados de petróleo.”

A expansão do Ingeo passa pelas parcerias com empresas globais – como a Pepsico, por exemplo – e nos últimos meses com a Danone, mais especificamente para as embalagens do iogurte Activia no mercado alemão, que devem chegar a outros países. “Com essas parcerias estamos aumentando nosso volume e nossa capacidade de produção”, reforça. A empresa também revela a construção de nova fábrica, muito provavelmente na Ásia, e não descarta outra implantação dependendo do desenvolvimento de mercado e de regiões. “Os detalhes devem ser apresentados em breve”, anuncia o gerente.

Bragatto explica que, desde a entrada no mercado nacional, a aceitação do produto tem sido muito satisfatória, o que tem levado a Cargill a parcerias para desenvolver novas aplicações. “Começamos com descartáveis e já migramos também para bens mais duráveis, como cartões, garrafas e filmes”. Um dos futuros usos do produto é o coating de papel, para a produção de itens 100% renováveis, ainda em testes de finalização. Feita com petroquímicos convencionais, a fina camada de plástico que recobre copos e outros descartáveis significa um problema na hora da reciclagem que, embora já exista tecnologia para tal, é complicada e cara. Com o PLA, explica o gerente, os materiais se tornam 100% renováveis, compostáveis e repolpáveis. “Isso deve atender o segmento de laminação de papel, de alimentos a caixas de detergente em pó, além do segmento de filmes, cuja procura está sendo muito boa”, revela.

O gerente acredita que com a nova política para resíduos sólidos, o Ingeo também terá grandes oportunidades de mercado graças à maior flexibilidade de opções de descarte, o que inclui as reciclagens mecânica e química, a compostagem e a incineração. “Como atende a todas as normas de certificação de biodegradabilidade e de compostagem mundiais, contempla todas as alternativas e pode ser incluído no nicho dos compostáveis e dos recicláveis. Isso permite trabalhar com diversos produtos”. No caso da destinação final, para ele, não se trata de escolher entre essa ou aquela. “Em casos em que há dificuldade de reciclar, como fraldas descartáveis, a compostagem se torna mais útil. Em outros, a reciclagem é mais interessante.”

Fonte
Revista Plástico Moderno
Edição nº442 - Agosto de 2011
http://www.plastico.com.br/reportagem.php?rrid=801

Parte 1 - Os plásticos do futuro
Parte 2 - Bioplástico x biodegradável x compostável
Parte 3 - Opções de mercado
Parte 4 - Plásticos de fonte renovável também crescem

Para Saber Mais
ABICOM - Associação Brasileira de Polímeros Biodegradáveis e Compostáveis.
Biomater
Biotecnologia do Plástico

Comentários

  1. eu adorei esa materia eu estou fazendo esse experimento e fui uma das escolhidas

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